Antes de iniciarmos esta viagem, precisamos de responder a uma questão: O QUE SIGNIFICA O TERMO SIMBIOLÓGICO?

Este conceito decorre do cruzamento de dois termos: simbologia e biologia.

O que estuda cada uma desta ciências? A biologia é, etimologicamente, a ciência da vida. No seu sentido lato, a biologia evidencia algumas leis da “natureza” que possibilitam a vida da célula e do indivíduo. A anatomia e a fisiologia, ramos importantes da biologia que estudam o funcionamento dos órgãos e dos sistemas, constituem as bases referenciais da SimBiologia. Com efeito, para analisar o sentido de um sintoma, a sua situação no organismo (anatomia) e a sua função fisiológica (fisiologia), são determinantes. Pelo seu lado, a simbologia, estudo dos símbolos, revela-se fundamental sobretudo pelas pistas que fornece a partir da simbólica corporal. Não é certamente por acaso que a linguagem está repleta de expressões relativas a esta simbólica: cabeça de casal, não ter pulso, ter as costas largas, fazer das tripas coração, etc. A dimensão social, cultural e frequentemente inconsciente é um dado fundamental na compreensão simbólica do sintoma.

Tomemos um exemplo: as pernas.

Em termos biológicos têm uma função precisa, permitir a deslocação (função motora). Em termos simbólicos, as pernas apontam para a realização de uma relação: ir ao encontro de, favorecer os contactos sociais. Na biologia temos a mobilidade; na simbologia, que deriva geralmente da noção biológica, temos a ideia de uma relação com o outro, que pode abarcar a família, a actividade territorial e profissional e, também, o campo da sexualidade. Assim, uma dor numa perna pode manifestar uma dificuldade relativa a uma relação. Por exemplo, uma pessoa que se sente obrigada a deslocar-se a um sítio que rejeita violentamente pode vir a manifestar esta contrariedade com dores e dificuldade de andar.

Há três conceitos fundamentais com os quais o leitor deve familiarizar-se desde já: CÉREBRO ESTRATÉGICO, COMPENSAÇÃO SIMBÓLICA E INCONFESSÁVEL.

O primeiro diz respeito à gestão e avaliação que o cérebro faz relativamente ao sofrimento íntimo da pessoa. No caso anteriormente referido,- ser obrigado a ir a um sítio que não se deseja sem poder manifestar o seu desacordo -, o cérebro lança uma resposta: a dor ou a dificuldade de deslocação. A resposta do cérebro estratégico funciona como uma forma de manifestar um desacordo, estabelecendo, assim, uma ligação entre o psíquico e o funcionamento dos órgãos corporais. O seu papel é fulcral: avalia permanentemente, a cada instante, a vida relacional do sujeito, o sofrimento, o bem-estar, os desejos frustrados ou realizados. Nesta medida, o sintoma surge para compensar uma desadaptação, neste caso preciso da deslocação- “eu não quero ir a um local L que o outro me impõe”.

Na definição das decisões e medidas que toma, o cérebro estratégico utiliza de forma sistemática o segundo conceito: compensação simbólica. No caso referido da perna, como se manifesta a compensação simbólica? Funciona a partir desta base: quando a pessoa sofre, por exemplo, um excesso de X (x+), o cérebro propõe a mesma quantidade X em (x-) simbólica. Imaginemos, ainda no caso da deslocação, uma imposição muito forte de um pai que obriga a filha a visitar um parente que ela detesta. A filha submete-se. O que acontece com o cérebro estratégico? Ele gere a frustração da rapariga que não é capaz de manifestar o seu desacordo. Assim, através da dor, ele propõe uma compensação simbólica que bloqueia o movimento. Com a dor - torcer o pé, por exemplo -, a pessoa manifesta a sua vontade de não ir. Com a dor, ela pode queixar-se e a partir da queixa receber, eventualmente, a ajuda por que espera, a compreensão do pai ou o conforto de uma outra pessoa (o que os psicólogos designam de benefícios secundários do sintoma). O objectivo da Compensação consiste em restabelecer um equilíbrio pela via simbólica.

Este caso permite-nos abordar o terceiro pilar da TSB: o inconfessável. No caso da rapariga, vemos que ela não manifesta o seu desacordo. Este aspecto, o inconfessável, está na origem da maioria das patologias. O medo, o medo de ser estúpido, a vergonha, o medo de um castigo, o medo de enfrentar uma autoridade, a culpa, o medo de desiludir e tantos outros receios são os travões que impedem a verbalização do sofrimento. É esta dimensão indizível que o cérebro estratégico gere permanentemente.

Para finalizar esta breve introdução, o que podemos ainda concluir a propósito do caso que expusemos? Um dado fundamental: embora a perna esteja dolorosa e apresente eventuais manifestações fisiológicas (inchaço, inflamação, hematomas, etc.), que merecem os cuidados adequados, o sintoma reflecte, sobretudo, uma iniciativa do cérebro estratégico. A perna está apenas a adaptar-se a uma informação que recebe do cérebro no sentido de resolver, simbolicamente, uma situação conflituosa.

A TSB considera a doença como um mecanismo de adaptação psico-cerebral que se concretiza a partir da Compensação Simbólica. Por isto, focaliza a interpretação dos sintomas e a intervenção terapêutica não no órgão propriamente mas no diálogo íntimo gerido pelo cérebro. Com efeito, nenhuma patologia é fruto do acaso, todas obedecem a uma lógica rigorosa e é precisamente neste mundo de uma lógica SimBiológica que eu convido agora o leitor a viajar ao longo DESTE ROTEIRO.