Insuportavelmente interdito: o inconfessável

Mesmo com as melhores intenções e a maior competência do terapeuta, um tratamento pode andar às voltas e voltas de uma forma frustrante por causa de algo que o paciente conserva em si, geralmente no inconsciente, e que inviabiliza a cura. De que “algo” se trata concretamente que impede o cérebro de virar a página do conflito para passar à cura definitiva? Que factor bloqueador é este que impede a cura?

NAO DITO INCONFES

Com a adopção do pequeno cão (ver na Percepção Emotiva o caso "despedimento") , o senhor resolve o seu problema de solidão. Aparentemente, tudo se resolveu e a vida continua. Na verdade, não é bem assim. Nesse momento surge um sentimento, inesperado, que o tortura: a culpa. Trata-se duma culpa bem específica e que lhe é extremamente difícil de gerir. Considera-se culpado de ter abandonado o setter. Mais insuportável ainda do que o sentimento de culpa é uma sensação desagradável na barriga que aparece de vez em quando, sobretudo nos momentos em que passa a mão na cabeça do novo animal. Não sabe explicar essa sensação que tenta afastar recorrendo a várias estratégias de distracção. No entanto, depois de uma investigação emocional mais aprofundada, descobre a razão do seu sofrimento: “o setter está a sofrer e pode vir a morrer de tristeza por causa de mim. Sou um horrível criminoso!”, eis os pensamentos que rumina incessantemente. Ao tomar consciência desse sentimento parasita, liberta-se da obsessão insuportável de ”ser responsável da (eventual) morte dum outro, de ser um criminoso, um “sem coração”

Os sintomas constituem uma das principais linguagens do corpo; se queremos tratar deste, temos que os saber ouvir, compreender e interpretar; mas o mais importante é poder proporcionar as condições de confiança para que a pessoa possa exprimir o que conserva no seu íntimo: o sofrimento inconfessável (não dito). A pessoa precisa de encontrar um ouvido atento, capaz de facilitar a libertação do indizível, que ainda magoa.

Frequentemente, o interdito/inconfessável não pode ser levado à consciência simplesmente porque ficou recalcado no inconsciente e por isso a pessoa não tem acesso ao factor proibitivo (culpa, vergonha, incapacidade, sentimento de ódio, desejo de matar, medo de magoar o outro…). Mas o sintoma, os pesadelos, os actos falhados são compensações simbólicas que revelam o interdito.

Para finalizar este roteiro, vejamos agora a última etapa: COMPENSAÇÃO SIMBÓLICA E SOFRIMENTO INFANTIL.