1- Aceder ao código do cofre
O acto de descodificar consiste em traduzir os sinais de uma mensagem, aparentemente incompreensível ou inacessível, em dados significativos, claros e elucidativos. Da mesma forma que o código formado por alguns algarismos e letras possibilita abrir a porta de um cofre e descobrir o seu conteúdo, o terapeuta em SimBiologia procura, através do sintoma, ter acesso a uma informação que relata uma experiência interna, contida, da pessoa. O cofre representa, apenas, a parte externa visível, que contém algo de importante mantido secreto e seguro. Geralmente, o conteúdo tem um valor vital - afectivo, comercial, moral (cartas, informações, dinheiro, diamantes, fotos, recordações, compromissos, etc), impossível de avaliar só pelo aspecto do cofre ou pelos dados do código.
Assim, dois pontos devem ser salientados:
- sem o código de entrada (SimBiologia), é difícil chegar à informação contida.;
- o cofre (sintoma) faz sentido apenas quando a pessoa tem algo a proteger, a esconder dos outros ou de si.
Vejamos os significados mais comuns da palavra SENTIDO:
Sentido = Direcção
Sentido = Significado
Sentido = Vivido com os sentidos
Sentido = Magoado, pesaroso
Sentido = Intenção
A patologia não surge por acaso. Ao reflectir uma dificuldade em gerir uma opção de direcção, uma intenção, uma mágoa, emoções e sensações contidas, ela faz todo o sentido. A patologia revela algo que a pessoa não aceita ou não consegue gerir na sua vida, desejos frustrados, revoltas contidas, emoções recalcadas. Ela expõe um sinal para quem deseje ver ou ouvir e aponta pistas para quem deseje segui-las. Por isto, o terapeuta valoriza, acima de tudo, o sintoma.
Não se abre uma flor com os dedos
O trabalho da descodificação consiste justamente em ajudar a pessoa a tomar consciência do fenómeno inconsciente (bloqueio, contrariedade, medo e sofrimento) que dá origem ao sintoma. Esta compreensão constitui um passo decisivo no processo de cura. No entanto, se o terapeuta ajuda a pessoa a descobrir as chaves da compreensão, a decisão de abrir a porta do cofre (ou não) pertence exclusivamente ao paciente.
2- O terapeuta detective
A que se assemelha, então, a tarefa do descodificador em SimBiologia?
O sintoma é sempre o resultado de uma gestão de informações que o cérebro realiza com critérios SimBiológicos extremamente precisos. Perante isto, qual deve ser a primeira pergunta do terapeuta?
Uma, muito concreta: Que tipo de informação ou conjunto de informações o cérebro recebeu, que o levou a escolher um determinado sintoma- funcional, comportamental ou orgânico?
A partir dos indícios que consegue “apanhar”, o terapeuta tenta reconstruir, passo a passo, as condições e circunstâncias do crime, a fim de identificar os autores. No caso da patologia não há propriamente um crime mas uma sequência lógica a descobrir, de forma a explicar o “gesto” cerebral que lançou a patologia.
De que pistas dispõe o terapeuta?
Em primeiro lugar, dispõe das informações que o paciente fornece – aspecto físico, sintomas, queixas, identidade, história familiar e individual, forma de se exprimir, etc.
Em segundo lugar, dispõe da sua própria capacidade de investigação que o pode conduzir a dados que o paciente não quer ou não pode divulgar (daí o conflito) ou dos quais não tem consciência.
Se para o terapeuta quase tudo é significativo e portador de informação, o processo de investigação segue, no entanto, duas etapas precisas:
A primeira etapa consiste em analisar atentamente o objectivo principal da consulta: o sintoma e a queixa. Nessa fase, de forma a situar o sintoma no tempo e no espaço, o investigador procura todos os elementos: quando, onde, de que maneira e com que intensidade? Esta etapa deve poder colocar algumas questões precisas:
• Qual foi a função solicitada (locomotora, digestiva, respiratória, reprodutora…)? • Em que parte do órgão alterado se situa o sintoma? • O que justifica a escolha do órgão (bexiga, pele, esófago…)?B. A segunda etapa interessa-se mais pela pessoa, pela sua história, pela sua estrutura psico-afectiva, pelo modo como se relaciona com o mundo.
3- O sintoma: o entorse do pé
Tomemos um exemplo para ilustrar o primeiro passo que se concentra à volta da função do órgão atingido, pista de investigação fundamental:
Uma senhora torce o pé direito no momento em que sai do carro para se dirigir ao local de trabalho, acontecimento aparentemente estranho, já que o piso está totalmente plano e não sofreu nenhum empurrão. Sente uma dor lancinante no tornozelo que a impede de pousar o pé no chão e de continuar a andar.
Analisemos este sintoma a partir da função do pé e das consequências do acidente.
O que sabemos sobre o pé?
O pé constitui uma peça importante do aparelho motor. Está ligado à deslocação e, mais precisamente, a uma direcção precisa. Não são as mãos que dão a orientação do andar mas os tornozelos e os pés, que implicam, sobretudo, a noção de “tomar uma decisão , um rumo” quando se “dá um passo”.
Este sintoma permite-nos fazer a leitura seguinte do vivido da pessoa: “na minha decisão relativa à deslocação vivo um bloqueio; vou nesta direcção, mas não quero”. O cérebro, que deve gerir essa conflitualidade, opta pela solução mais adequada: não ir por aí. Os músculos e tendões do pé direito, que em situação normal dão a força ao tornozelo, são agora desmobilizados, de modo que, ao colocar o pé no chão, o tornozelo torce-se, haja ou não um obstáculo no caminho. Uma vez imobilizado, o sujeito sai da conflitualidade. Retido pela dor, é incapaz de ir seja onde for e principalmente onde não quer “pôr os pés”. Biologicamente, o conflito está solucionado. Resta-lhe, agora, gerir a imobilidade dolorosa e, eventualmente, aprender desta experiência algo sobre si, algo útil para a sua vida futura.
Com efeito, a dor obriga a reflectir, a concentrar-se sobre o problema de forma a encontrar uma solução. No caso da entorse, a solução consiste muito simplesmente em tratar do tornozelo e deixar de andar durante uns dias. Se na maior parte das patologias a resolução não é tão simples como o problema de entorse, na sua essência a lógica de abordagem dos sintomas é a mesma.
4- A queixa ou a verbalização do sintoma
A investigação à volta do “sintoma” estaria incompleta se deixássemos passar um aspecto determinante (frequentemente menosprezado) nas seguintes etapas da terapia: a forma que utilizamos para expressarmos o sintoma, isto é, a verbalização específica que cada um de nós faz do mal-estar e do sofrimento. Vejamos alguns exemplos de queixas:
- Sinto-me preso, atado; não posso dar um passo
- Sinto-me impotente
- Não consigo pensar, estou bloqueado
- Perdi o cheiro, a comida não tem sabor
- Sinto uma dor de facada na barriga
- Sinto-me abandonada pela minha família, desesperadamente só
- O meu peito está cheio de raiva, de tristeza
- Sinto um peso insuportável nos ombros, não consigo mexer o braço direito, sinto-o dormente
- Custa-me engolir, a digestão está parada, não faço a digestão
- Estou no fundo de um poço, impotente
Estas são, entre centenas e centenas de outras, algumas formas de verbalização de certos conflitos. A verbalização – descrição funcional – permite definir o que mudou na vida da pessoa, o que perdeu ou ganhou em termos de capacidade: perdi a fome, só quero comer doces, faço as coisas lentamente, sem vontade, fico aflito se não acabo as tarefas a tempo, perdi o sono, deixei de sair de casa, não consigo virar-me na cama, não suporto os gritos das crianças, etc.
5- Descodificação SimBiológica e fisiologia
Mas a abordagem da análise funcional do sintoma não fica por aqui. Continuemos, questionando agora a estratégia cerebral.
Os primeiros passos na abordagem da análise SimBiológica mostraram claramente a nossa distância relativamente à perspectiva sintomática dominante, que considera as manifestações fisiológicas, chamadas doenças, como o resultado de um defeito estrutural ou funcional de um órgão. Seguindo esta lógica, uma pessoa que apresenta uma bronquite ou uma asma alérgica é tratada a nível dos brônquios porque se acredita que os problemas respiratórios são o resultado de uma disfunção ou insuficiência pulmonar. Da mesma maneira, uma cistite, uma rinite, uma hipoacusia ou um eczema são sintomas tratados apenas como perturbações do órgão respectivo (bexiga, nariz, ouvido, pele). Se os tratamentos essencialmente locais têm a sua utilidade, eles são pouco esclarecedores sobre a eventual origem do problema, além de, muitas vezes, contribuírem para instalar o paciente numa posição passiva de “vítima”, que possibilita a passagem para a fase crónica.
O caso de surdez que vamos expor ilustra o modo como o cérebro altera uma função orgânica a partir duma informação específica.
SURDEZCaso: Uma pessoa vai perdendo o sentido auditivo até ficar surda.
Análise dos parâmetros básicos da situação, passo a passo:
1. O que implica o sintoma surdez? Implica que estamos na função auditiva.2. Qual é a função biológica da audição? O ouvido capta informações sonoras que o ligam aos outros seres vivos e o avisam, por exemplo, de certos perigos- explosões, buzinadas, proximidade de predadores e inimigos, presença de um intruso, gemido duma criança aflita, etc. Na vida dos seres humanos, o sentido auditivo é tão importante na função de defesa que permanece activo dia e noite, como o olfacto e o tacto.
3. O que pode levar o cérebro a alterar esta função até tornar a pessoa surda? O computador cerebral só altera a função auditiva – aqui, no sentido de reduzir a sua capacidade-, quando recebe um impulso psico-afectivo perturbador que poderá ser traduzido nos seguintes termos: eu não quero mais ouvir isto....; o termo isto corresponde a uma informação auditiva insuportável, geralmente considerada perigosa. Pode ser um barulho, discussões, palavras violentas, um silêncio ameaçador, etc. Com estas informações conseguidas a partir do sintoma, o terapeuta pode orientar um questionário no sentido de saber por que razão o sujeito opta pela surdez e o que é que a pessoa não quer/quis ouvir mais.
Imaginemos uma pessoa aterrada com o resultado de exames médicos. Se, de facto, tiver um pavor em ouvir o diagnóstico, o cérebro pode produzir um curto-circuito na transmissão neuronal, de forma a não deixar “entrar a mensagem perigosa”. Este mecanismo primitivo de protecção varia nas suas manifestações, podendo ir da hipo-acusia (baixa da faculdade auditiva) até à surdez completa, consoante o envolvimento emotivo e o impacto sobre a pessoa. Na maior parte dos casos, quando a situação não se repete e, sobretudo, se o tempo de stress não se prolongar, o sintoma costuma passar quase despercebido.
Para quem está a iniciar a sua aprendizagem na TSB imagino as dificuldades e as dúvidas relativas a esta omnipotência do cérebro. Imagino que o iniciado deve estar perplexo com esta capacidade do cérebro em desencadear surdez, paralisia, cegueira e tantos outros sintomas. Outra reacção seria de espantar. Mas de forma a poder ajudá-lo a dissipar os obstáculos da viagem, a iluminar as zonas mais obscuras, a guiá-lo nos caminhos mais íngremes dos mecanismos da TSB, vamos mostrar-lhe agora outras facetas do Cérebro Estratégico em Stress e RESPOSTA CEREBRAL