1- As duas componentes dum acontecimento

Qualquer episódio ou acontecimento apresenta duas componentes:

  1. O vivido corresponde à descrição do que aconteceu, a uma leitura factual. Por exemplo, num acidente de carro, o vivido é o depoimento minucioso, que descreve as circunstâncias detalhadas do sinistro.
  2. A Percepção Emotiva corresponde à captação afectiva individual do acontecimento e funciona como uma resposta às perguntas: “o que é que eu senti no momento e qual foi o sentido que dei ao acontecimento?” “que percepção da situação eu conservei na minha memória?”

Por exemplo, no registo de um acidente de viação, as emoções não são consideradas (o seguro só está interessado em conhecer os prejuízos e as responsabilidades); na prática terapêutica, no entanto, as emoções do vivido permitem avaliar o envolvimento afectivo da pessoa e o impacto interior. É apenas a partir da percepção emotiva que podemos prever uma somatização ou ligar o aparecimento de uma patologia a um acontecimento concreto.

Entorse do pé

Para ilustrar a importância da Percepção Emotiva vamos retomar o caso da Entorse do pé abordado no capítulo O que é Descodificar SimBiologicamente.

Focalizemos a nossa atenção sobre a formulação da queixa. Escutemos o que a senhora diz logo depois da queda: “não posso pousar o pé, a dor é insuportável, não me aguento em pé, só consigo estar parada”.

A partir desta descrição, e considerando que o sintoma constitui uma resposta cerebral de compensação relativa a uma situação de hiperstress, é possível captar informações sobre a problemática que provocou o “acidente”.

  • A dor insuportável implica um contacto não desejado com algo
  • “Não posso pousar o pé” significa que existe uma impossibilidade em andar, uma recusa em dirigir-se numa determinada direcção.

Com estes primeiros dados, o terapeuta pode avançar na pista de investigação que o levará a encontrar algo mais preciso - a Percepção Emotiva - responsável pelo sintoma. À questão: “antes do acidente sentiu-se obrigada a ir numa direcção que não queria?”, a resposta não tarda: “naquele dia acordei muito contrariada. Tinha de dar aula a uma turma agitada duma colega que estava de baixa; era a última coisa que desejava, enfrentar aquela turma, só me apetecia ficar em casa, a descansar. Ao chegar ao colégio torci o pé precisamente quando me dirigia para a sala de aulas”.

A informação recebida pelo cérebro foi esta: “devo andar nesta direcção para entrar em contacto com algo que representa um perigo e que se opõe ao meu bem-estar; quero ficar aqui”. Este caso mostra o elo lógico que une os vários elementos e os vários momentos relacionados com o sintoma:

  1. Antes do acidente: stress com a Percepção Emotiva – “não quero ir nesta direcção, no quero pôr os pés naquela sala”. A pessoa não conseguiu manifestar, verbalizar a sua contrariedade: “vontade de mandar passear…”
  2. No momento da entorse, realiza-se a solução: o tornozelo, alterado no seu funcionamento, torce-se. O sintoma/acidente simboliza o desacordo, e o que a pessoa mais desejava realiza-se: ”não dar aula”.
  3. Depois do acidente: o conflito está resolvido e mantém-se a solução – “não posso pousar o pé por causa da dor insuportável”.

Para salientar a eficiência terapêutica da Terapia SimBiológica, convém saber que, quando a pessoa manifesta a Percepção Emotiva de forma visceral (não apenas racional) e toma consciência da (bio) lógica do processo, o cérebro muda a sua estratégia de modo que o sintoma/solução pode desaparecer quase imediatamente. No caso da entorse, a pessoa acordou no dia seguinte praticamente sem inchaço e sem dor.

Afinal, a prática de terapia confirma sistematicamente o sentido da patologia que evidenciámos: a patologia reflecte a dificuldade ou a impossibilidade vivida pela pessoa no que diz respeito à gestão de uma realidade (externa e interna) que não aceita.


DA MESMA FORMA QUE SEM UM OBSTACULO NO CAMINHO DA LUZ NÃO HA SOMBRA, SEM UM CONFLITO, A PATOLOGIA NÃO SURGE, SIMPLESMENTE PORQUE NÃO FAZ SENTIDO.


A compreensão do fenómeno Percepção Emotiva ficaria incompleta sem uma abordagem da componente que lhe é indissociável: A COMPENSAÇÃO SIMBOLICA.